Está cansado de ouvir e ler profissionais da moda lembrando que vida de modelo não é só glamour? Pois é, meu querido, não vou e não posso dizer outra coisa: eles estão certos e só disseram a verdade. Como sei? Aprendi na prática. Confesso que demorei muito para pisar com meu salto-alto no chão. Por isso estou aqui “Tcharan”! Para não deixar que você, leitor (a), caia nos mesmos buracos que eu ou que não cometa as minhas burradas (e olha que já fiz muitas!).
O “Vida de New Face” é um espaço que abri para contar as minhas experiências ao longo da minha não tão longa carreira no sonhado mundo das modelos. Foi sim curta, mas isso não quer dizer que sofri pouco, que não tive tempo de apreciar nada e que também não aprendi nada da e para a vida. O intuito de contar as minhas experiências é fazer com que você que está começando agora se identifique com algumas situações, ou as evite, aprenda com elas, sirva de inspiração, ou quem sabe de “noção” para quem quer começar. Por aqui quero compartilhar também dicas para a profissão, para o cotidiano, notícias interessantes do mundo da moda, sobre modelos e até mesmo aqueles assuntos irrelevantes, completamente fora da proposta inicial, mas que sempre rende bons assuntos.
Eu sou mineira de Belo Horizonte, nascida e criada nesta cidade que amo de paixão e foi aqui que comecei a minha carreira. Se começar no mundo da moda já é difícil devido a tantas exigências imaginem como é começar em BH. Por mais que a moda local esteja se desenvolvendo graças ao Minas Trend Preview e alguns outros fatores, o mercado das modelos ainda se concentra no eixo Rio-São Paulo e é lá que estão localizadas as revistas de moda e os clientes mais importantes do país. A verdade é que o meu começo foi muito inusitado naquele momento.
O mês era de férias escolares e todo mundo por aqui sabe que neste período Belo Horizonte fica completamente vazia, exceto em uma parte da cidade: o centro. Todo mundo que está a toa resolve ir para lá. Seja para comprar, comer alguma coisa ou bater perna. Eu estava com a terceira opção. Lembro que seguia para o Shopping Cidade e estava decidida a entrar pela porta da Rua Rio de Janeiro. Para chegar até lá, vindo da Praça Sete, tinha que subir o tradicional quarteirão fechado. Para quem não conhece, o local é lotado de hippies vendendo bugigangas, skatistas, pessoas bem alternativas, mas ainda assim todo mundo da cidade passa por lá alguma vez. Momento curiosidade: o local ainda conta com todo esse pessoal dançando jazz durante algumas noites do fim de semana, o que mostra que ali é menos assustador que imaginam! Considerando que isso não vem ao caso (risos) e voltando para a história, foi neste local em que fui abordada pela primeira vez. Ouvi um “Oi” de um desconhecido, fiquei arrepiada, com o coração acelerado, até que ele me entregou um cartão, falou algumas bobagens (algumas delas me elogiando rs) e pediu meu celular para que ele entrasse em contato comigo novamente me “lembrando” de procurá-lo na agência dele. Esquivei na hora. Primeiro porque não estava em condição de pensar se queria ser ou não modelo naquele momento e segundo porque não dá para passar celular para qualquer um que te chama de linda e quer que você seja modelo no meio da rua. #ficadica
Fui educada dizendo que se estivesse interessada, entraria em contato com a agência. Segui para o shopping e mais tarde, quando cheguei em casa, contei sobre o convite às minhas amigas e aos meus pais. É claro que já tinha pensado, em algum tempo distante, em ser famosa como modelo, mas só. Coisa de menina. Nada comparado a algo do tipo “Mãe, me leva em uma agência. Quero ser modelo.” Fiquei mesmo rindo a toa com o convite, mesmo pensando que a agência que me convidou era uma furada. O que me deixou ainda mais na dúvida: Essa agência estava convidando qualquer uma ou me convidou por achar realmente que tenho potencial? Neste momento de reflexão eu me senti sã e consciente de que não iria fazer nenhuma besteira, que não iria tomar nenhuma decisão louca. Desisti da carreira...
... Mas não por muito tempo. Minhas amigas ficaram falando na minha cabeça e o que mais me surpreendeu foi que até os meus pais me deram força. Meu pai devia achar que tudo não passava de festa, mas queria estar nessa “festa” comigo. Já a minha mãe, deve ter pensado que esse era o meu sonho de vida e que ao receber o convite era o sinal que faltava para realmente me incentivar. Quando a notícia se espalhou – e nada até então de eu ligar para a agência ou procurar alguma outra – a parentada toda me elogiou ainda mais e repetiam as frases de que era, e sempre fui, alta e magra e que não me viam fazendo outra coisa. (Ok, obrigada, família, mas... HELLOOOO! Como assim não me viam fazendo outra coisa? Será que todas as meninas altas e magras estão restritas a carreira de modelo? Fim do desabafo. Vocês acham que na hora eu realmente pensei em algo assim? Só conseguia ficar sem graça, sem saber onde enfiar a cara, mas aqui no meu peito só crescia a vontade de seguir na profissão).
Em casa eu decidi e prometi que iria pesquisar sobre o assunto, inclusive sobre a agência que me convidou. Seria uma agência séria? Famosa? Quem fazia parte do casting? Quem eram os profissionais que estavam por trás? Liguei o computador e comecei com as buscas. Muita coisa ainda estava por vir.
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O quarteirão fechado de BH. |