Pesquisei sobre a agência que me enviou o convite. Li tudo que tinha disponível no site: o “quem somos”, “contato”, “staff” e fiquei um bom tempo vasculhando todo o casting (tanto o feminino quanto o masculino). Para completar, busquei mais informações nos sites de busca. A agência tinha em torno de cinco anos de existência em Belo Horizonte e considerei até positivo, pois como disse, é no eixo Rio-São Paulo que as coisas mais acontecem e acaba sendo difícil a sobrevivência nos “lados de cá”. Outro ponto positivo foi o histórico do diretor/fundador da agência. Tinha experiência em outras agências, trabalhos no exterior e em vários outros setores da moda.
Depois de tanta pesquisa, peguei o cartão do homem que me abordou e liguei para a agência na qual ele disse trabalhar e verifiquei se ele realmente existia. A idéia foi do meu pai. Era tudo que ele precisava saber para então aceitar a me levar até o local em que a empresa estava instalada. A agência atendia as candidatas a new faces de segunda a sexta no período da tarde. Quando cheguei, logo na recepção recebi uma ficha para colocar meus dados pessoais e então fui direcionada para uma salinha onde outras cinco meninas aguardavam pela avaliação. Uma a uma era chamada para a avaliação em uma outra sala. Ao chegar a minha vez, procurei pelo homem que tinha me abordado, mas não o vi. A avaliação das candidatas era feita por uma mulher, que se apresentou como booker das new faces. Mostrou-se muito simpática até o momento em que começou a me avaliar. Ficou completamente muda. Tive sensações estranhas, calafrio, insegurança, estranheza. Ela me olhou de cima a baixo e tudo que pedia depois era “fique de perfil”, “segure seu cabelo”, “faça um rabo”, “sorria” (a coisa mais difícil de fazer devido ao nervosismo), entre outras ações. Ela aproveitava para me fotografar com uma simples máquina digital.
A última parte do teste foi a temida fita métrica. Mediu minha altura, busto, cintura, quadril, e achei que ela iria medir até o tamanho do meu nariz ou a circunferência da minha canela. Passado isto, a booker perguntou o que me levou até a agência. Citei o nome do rapaz que me indicou. Ela riu e eu fiquei sem entender. Aliás, hoje eu entendo (ou pelo menos acho). Talvez ela esperasse uma resposta de que este era o maior sonho da minha vida, que eu não me via fazendo outra coisa, e não o nome de quem me achou na rua. “M”, a booker em questão, disse que gostou do meu perfil, mas que a avaliação não terminava ali. Completou dizendo que caso a agência se interessasse por mim eles ligariam. Sorri, entreguei a ficha para ela e bastou reencontrar meu pai na primeira sala que meus olhos encheram de lágrima. Recontei a história e então percebi que esta foi uma forma educada de me dispensar. Nessa hora pensei que foi uma perda de tempo ter tentado. Meu pai ficou me abraçando por um bom tempo, para me convencer do contrário do que estava dizendo, e que independente da avaliação tudo isso não passou de uma experiência e até mesmo uma forma de ter tirado a curiosidade de como funciona uma avaliação em agência de modelo.
Eu já tinha caído na real de que toda a abordagem não passava de um trote e que tinha sido apenas uma tentativa do rapaz para conseguir meu telefone. A agência não ligou no dia seguinte, como já desconfiava. Eles tentaram me confortar e até sugeriram que eu ligasse perguntando sobre o resultado. Recusei. A surpresa veio no outro dia, quando a booker que me avaliou fez questão de falar comigo dizendo que fui aprovada. Marcou comigo uma certa hora para comparecer a agência e que por ser menor de idade deveria levar o meu responsável. Bastou a ligação para eu ficar toda sorridente, mas também para ouvir seguidos “eu te avisei, sua boba”, “você é muito precipitada”, “da próxima você me escuta” e várias outras frases do gênero.
Meu pai me acompanhou novamente até a agência na data e hora marcada. Fui encaminhada para uma sala com outros profissionais da agência, incluindo o rapaz da abordagem. Descobri que ele também era booker, mas de um setor diferente da responsável pela avaliação. O encontro na agência foi para ouvir explicações sobre o contrato, o funcionamento da agência, conhecer as instalações, como funcionam os trabalhos, como seria a minha rotina e quanto custaria para fazer um book (o portfólio contendo fotos das modelos). Foi de se a$$ustar.
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Na foto, a jogadora de volei Luciane Escouto fazendo teste na Ford Models.
Foto retirada do site Uol Esporte. /Monalisa Lins. |